Como deve ser a Dieta na Síndrome dos Ovários Policísticos
Bianca Oliveira
Nutricionista ClínicaComo deve ser a Dieta na Síndrome dos Ovários Policísticos?
- O QUE É
- COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO
- SINAIS E SINTOMAS
- QUAL É O TRATAMENTO DE PRIMEIRA LINHA?
- QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS?
- POR QUE A ALIMENTAÇÃO DEVE SER EQUILIBRADA?
- COMO DEVE SER A DIETA NA SOP?
- CONSUMO DE CARBOIDRATOS SIMPLES
- CONSUMO DE CARNE VERMELHA
- QUAIS CARBOIDRATOS PREFERIR
- EXERCÍCIOS FÍSICOS
- ORIENTAÇÕES
Hoje vou falar mais sobre como deve ser a dieta na Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e sobre a sua importância.
Antes de mais nada, você precisa saber o que de fato é a SOP para assim entender o porquê que você deve equilibrar a sua alimentação.
A SOP é uma condição crônica e endócrina, isso significa que hormônios estão envolvidos. Ela possui esse nome justamente por que as mulheres podem apresentar ovários policísticos em um ou ambos os ovários. Ainda não se sabe a real causa da SOP, mas acredita-se que o desequilíbrio hormonal pode surgir a partir da predisposição genética iniciando com a Resistência à Insulina (RI), hormônio que regula a glicemia sanguínea.
Com a RI instalada, os níveis de Testosterona sofrem alteração (aumento), o que dá começo ao processo de formação de cistos e às características clínicas da doença, como o crescimento abundante de pelos (hirsutismo), acne, alopecia androgênica e excesso de peso.
A resistência a insulina não é um critério diagnóstico, mas por estar associada a etiologia da SOP, o tratamento visa o controle desse hormônio que atua diretamente no equilíbrio da Testosterona e características clínicas da condição.
Os critérios diagnóstico da SOP são baseados no consenso de Rotterdam, onde a mulher (> 18 anos) deve apresentar no mínimo dois dos três critérios para ter o diagnóstico fechado. São eles:
Critérios de Rotterdam
. Ovários policísticos (cistos nos ovários por US vaginal em adultas ou abdominal em adolescentes);
. Hiperandrogenismo (níveis elevados de testosterona por exames bioquímicos de sangue);
. Anovulação (ausência de ovulação/menstruação por 9 meses ou mais).
É importante ressaltar que segundo as Diretrizes clínicas de tratamento da SOP (clique aqui), o diagnóstico em adolescentes deve pontuar os três critérios e ainda ser confirmado após 8 anos desde a menarca (primeira menstruação). Isso porque o ciclo menstrual entre as adolescentes é naturalmente irregular, podendo ainda o ovário apresentar microcistos que não são classificados como SOP.
Existem 4 fenótipos (formas de apresentar a doença) de SOP:
. Fenótipo 1: hiperandrogenismo, anovulação, ovário policístico
. Fenótipo 2: anovulação e hiperandrogenismo
. Fenótipo 3: hiperandrogenismo e ovário policístico
. Fenótipo 4: anovulação e ovário policístico
Adolescentes e adultas podem apresentar sinais como o aumento do crescimento de pelos no corpo (hirsutismo), queda de cabelo com surgimento de alopécia androgênica (calvice feminina), e acne em excesso principalmente na região mandibular. Esses sinais são consequência do aumento da testosterona (hormônio masculino).
Sintomas como fadiga, indisposição, ganho de peso e aumento do apetite podem estar presentes devido ao quadro de resistência a insulina que muitas mulheres podem desenvolver.
QUAL É O TRATAMENTO DE PRIMEIRA LINHA (PRIMEIRA ESCOLHA)?
A Mudança de Hábitos de Vida (MEV) é a primeira estratégia a ser usada/recomendada.
QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS?
Os tratamentos são iniciados a partir da suspeita ou diagnóstico feito por Ginecologista ou Endócrinologista.
Como a SOP não tem cura, os tratamentos medicamentosos visam o controle hormonal com o uso de Contraceptivos Hormonais Orais combinados (CHOC) e/ou Sensibilizadores de Insulina (metformina). Quando há ausência de resultados com o uso de CHOC e com a MEV, as diretrizes clínicas recomendam utilização de agentes Antiandrogênicos combinados ou não com Sensibilizadores de Insulina.
POR QUE A ALIMENTAÇÃO DEVE SER EQUILIBRADA?
Como você leu anteriormente, a Resistência a Insulina (RI) está presente, e como o explicado, ela pode aumentar os níveis de Testosterona e piorar a condição da paciente.
Sabendo que a Insulina é o hormônio responsável pela entrada da Glicose na Célula para que ela gere energia, quando há a resistência a insulina a glicose não consegue adentrar na célula e fica em circulação na corrente sanguínea. Isso aumenta as chances da paciente adquirir Diabetes Tipo II e Doença Cardiovascular.
O padrão alimentar na SOP é baseado na Dieta do Mediterrâneo, onde:
. É rica em ácidos graxos poliinsaturados (azeite, semente de linhaça dourada, peixes, abacate, etc);
. Rica em antioxidantes (frutas, verduras e legumes);
. Pobre em carne vermelha;
. Pobre em gordura saturada (frituras, manteiga, carne vermelha, fast-foods);
. Leites e devirados magros (leite desnatado, queijo branco, produtos light e diets).
CONSUMO DE CARBOIDRATOS SIMPLES
Os carboidratos são um grupo de alimentos essenciais para a saúde, e são os principais responsáveis pela produção de energia no organismo por serem compostos por inúmeras moléculas de glicose. Pense comigo. Onde há RI e excesso de Carboidratos (glicose), existe uma glicemia elevada (excesso de açúcar no sangue). Isso é fator de risco para diabetes tipo II. Desta maneira, as pacientes com SOP possuem 3 a 4x mais chances de adquirirem diabetes tipo II.
Por isso a dieta, sobretudo, rica em Carboidratos simples (ver na Tabela 1), não deve existir.
Além disso, deve haver o equilíbrio na ingestão de gorduras e carnes vermelhas devido ao risco das pacientes desencadearem Doença Cardiovascular.
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Alimentos fonte de Carboidratos Simples |
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Açúcar branco |
Salgadinhos de pacote |
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Açúcar demerara |
Granola adoçada |
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Açúcar mascavo |
Ketchup |
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Xarope de milho |
Biscoitos recheados |
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Mel |
Cereais matinais adoçados |
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Achocolatado |
Sorvetes tradicionais |
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Sucos de pacote em pó |
Doces |
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Sucos de garrafa |
Chocolate em barra tradicional |
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Refrigerantes |
Frutas em conservas |
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Bolos tradicionais |
Geleias tradicionais |
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Produtos de panificação |
Iogurtes com sabor (ler rótulo) |
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Fast-foods |
Gelatinas com sabor (ler rótulo) |
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Guloseimas |
Cana de açúcar |
É importante você saber que o açúcar mascavo e demerara contém calorias semelhantes as do açúcar branco e a mesma capacidade de aumentar a glicemia sanguínea, mudando apenas por serem menos refinados e por continuarem a manter alguns minerais.
As carnes vermelhas e de porco apresentam perfil inflamatório por aumentarem a produção de Radicais Livres e Citocinas pró inflamatórias, piorando o quadro de inflamação, naturalmente presente na SOP.
A recomendação de ingestão de Carnes Vermelhas é de no máximo 2x/semana, em alguns casos, pode haver exclusão da dieta.
Os carboidratos não devem ser excluídos da dieta, mas sim, deve-se priorizar aqueles de melhor qualidade Nutricional.
Quando falamos de qualidade nutricional dos carboidratos, priorizamos os carboidratos complexos, que são aqueles que no processo de digestão, são mais difíceis de serem digeridos e serem transformados em glicose. A estrutura mulecular desses carboidratos (ligações ß 1-4) confere a eles uma maior resistência a digestão.
Geralmente, os carboidratos complexos possuem baixo índice Glicêmico (IG), que é a capacidade do alimento de aumentar a glicemia sanguínea após serem consumidos. Quanto maior é o IG, maior é essa capacidade e maior é a concentração de açúcar no sangue após o consumo. Como na SOP pode haver a resistência a insulina que provoca excesso de açúcar no sangue, se torna mais interessante consumir alimentos de baixo IG (ver na tabela 2).
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Índice Glicêmico dos Alimentos |
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Baixo IG ≤ 55 |
Médio IG 56-69 |
Alto IG ≥ 70 |
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Cereal matinal do tipo All Bran 38 |
Arroz integral 66 |
Arroz branco 73 (consumir com fibras, até adequar o paladar e conseguir consumir o integral) |
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Chocolate ao leite 55 |
Cuscuz de trigo 65 |
Pipoca 70 |
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Espaguete integral 38 |
Farinha de mandioca 61 |
Bolacha de arroz 87 |
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Amido de milho 50 |
Farinha de milho 60 |
Cereal de milho tipo Corn Flakes 88 |
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Cevada 30 |
Aveia em flocos 60 |
Pão branco 73 |
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Muesli 55 |
Pão de grãos 53 |
Tapioca 93 |
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Frutose 24 |
Panquecas caseiras 66 |
Pão integral 71 |
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Refrigerante à base de cola 77 |
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- |
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Verduras e legumes |
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Baixo IG ≤ 55 |
Médio IG 56-69 |
Alto IG ≥ 70 |
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Feijão 23 |
Inhame cozido no vapor 51 |
Purê de batata 83 (consumir com fibras, adicionar aveia) |
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Tomate cru 23 |
Batata doce cozida 64 |
Batata cozida 79 |
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Cenoura crua ralada 35 |
Beterraba 64 |
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Sopa de tomate 38 |
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Milho cozido 52 |
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Soja cozida 20 |
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Batata frita 50 |
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Abóbora cozida 53 |
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Aipim cozido 54 |
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Frutas |
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Baixo IG ≤ 55 |
Médio IG 56-69 |
Alto IG ≥ 70 |
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Maçã 44 |
Kiwi 58 |
Melão 70 |
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Morango 29 |
Abacaxi 66 |
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Laranja 49 |
Uva 58 |
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Suco natural de maçã sem açúcar 50 |
Cereja 63 |
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Suco de laranja 44 |
Uvas passa 56 |
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Banana madura 51 |
Pêssego 57 |
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Manga 51 |
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Melancia 53 |
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Pera 37 |
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Banana verde 38 |
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Ameixa fresca 53 |
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Mamão 41 |
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Oleaginosas (todas são de IG baixo) |
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Pistache 28 |
Castanha de caju 25 |
Amendoim 23 |
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Leite, derivados e bebidas alternativas (todos são de IG baixo) |
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Leite de soja 21 |
Leite desnatado 40 |
Iogurte natural 36 |
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Leite integral 41 |
Leite fermentado 58 |
Iogurte natural desnatado 32 |
É recomendado cerca de 150 min por semana de exercícios físicos moderados, ou 75 min por semana de exercícios físicos intensos. Para adolescentes a recomendação da European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (2020) é a de que realizem 60min de atividade física diária.
Faça exercícios que você sinta prazer e que goste, comece aos poucos e evolua a intensidade gradativamente.
Como você viu, a mudança no estilo de vida é essencial para o controle da resistência a insulina e da testosterona em mulheres com SOP. Busque orientação profissional e inicie o seu tratamento para evitar complicações relacionadas ao risco Cardiovascular e de Diabetes Tipo II.
. Médica(o) ginecologista
. Médica(o) endócrinologista
. Nutricionista Clínica
. Educadora(o) física especializada
. Psicologa(o).
Este artigo possui caráter informativo não substituindo consulta com Nutricionista ou Médica.
Bianca Oliveira
Nutricionista pela Universidade Federal do Pará- UFPA
Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário do Pará- CESUPA
CRN7 13537/P.
Referências:
BRASIL. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas na Síndrome dos Ovários Policísticos. Ministério da Saúde. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/publicacoes_ms/pcdt_sndrome-ovrios-policsticos_isbn.pdf.
Helena Teede, et al. International evidence based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome. Copyright Monash University, Melbourne Australia 2018.
MAHAN, ESCOTT-STUMP, RAYMOND. Krause, Nutrição, Alimentos e Dietoterapia. Elsevier. Cap. 32, p. 1422-25. 2018.

