Dificuldade pra ganhar peso
Muito se fala sobre perda de peso, e com razão, pois o sobrepeso e a obesidade são um problema de saúde pública no brasil e no mundo 1. Mas eu venho recebendo com frequência no consultório, queixas de mulheres com dificuldades para ganhar peso. E a real é que, há uma linha tênue entre a busca pelo peso saudável, o ganho de peso e a perda de peso excessiva.
Então se você tem a mesma queixa, você não está sozinha. Isso porquê, várias condições físicas e psicológicas podem estar envolvidas e acabam por interferir no ganho de peso saudável. Dessa forma, investigar a causa e tratar a base, tende a quebrar o ciclo vicioso de não ganho de peso.
Assim como no sobrepeso, existem vários fatores relacionados a dificuldade em ganhar peso. Irei pontuar algumas aqui e quais os prováveis motivos. Se até hoje você continua com essa dificuldade, busque orientação profissional e investigue seus sinais e sintomas.
- A genética: pois é ela quem determina qual o biotipo (endomorfo, ectomorfo, mesomorfo).
- Estresse, ansiedade, depressão: pois podem interferir na quantidade de consumo, frequência de refeições e na percepção de fome e saciedade.
- Atividades em excesso e consumo calórico baixo: nesses casos, acaba acontecendo um balanço calórico negativo com déficit calórico e o indivíduo acaba perdendo peso.
- Problemas de absorção de nutrientes: algumas condições podem causar absorção inadequada de nutrientes, como a disbiose, doença celíaca, intolerância a lactose ou ao glúten, alergias alimentares, doença inflamatória intestinal, retocolite ulcerativa, entre outras. Pois influenciam na qualidade da mucosa intestinal e também na microbiota, impactando na obsorção adequada de vitaminas, minerais, bioátivos, etc. Geralmente, essas condições quando não são tratadas, causam inflamação intestinal local, o que piora mais ainda a função de absorção do intestino.
- Uso de determinados medicamentos com esse efeito colateral ou efeitos que diminuem/alteram o paladar, apetite: antiepiléticos, anticancerígenos, entre outros. A própria covid-19 (ou a síndrome pós covid) que causa perda de olfato e paladar, pode repercutir em dificuldade de ganho de peso.
- Diabetes com descoberta recente: pois causa aumento do consumo da reserva de gordura e tecido muscular, devido a baixa utilização da glicose, que fica em grande concentração na corrente sanguínea sem ser usada pela célula.
- Hipertireoidismo: o aumento da tiroxina acelera o metabolismo, aumenta a oxidação de lipídeos, glicólise, promove vasodilatação e aumento do débito cardíaco.
- Outras causas: endometriose sem tratamento, síndrome geriátrica, falta de organização da rotina, jejum intermitente, câncer, disfagia, vulnerabilidade socioeconômica, entre outras.
A boa notícia é que, na maioria dos casos, tratando a condição de base, o ganho de peso saudável pode acontecer e ser mantido. Em alguns casos, o uso de estimuladores de apetite (corticosteroides, por exemplo), podem ser utilizados, sob prescrição médica.
Dietas de alta energia (>35kcal/kg/dia): são dietas ricas em calorias, sobretudo, as boas calorias. Em uma dieta de alta energia, utilizamos 35kcal/kg/dia (35 quilocalorias por quilograma de peso por dia) ou mais, isso significa que uma pessoa de 60kg consome cerca de 2100kcal por dia em uma dieta calórica. O aumento das calorias ocorre de maneira gradual para evitar desconforto gástrico.
Na tabela 1, encontram-se alimentos calórico que podem ser inseridos na dieta de quem busca ganho de peso saudável.
Abacate | Pasta de amendoim |
Azeite de oliva | Óleos |
Batata doce | Castanhas |
Nozes | Açaí |
Coco | Queijos amarelos |
Carne vermelha | Ovos |
Suplementos lipídicos: os lipídeos, mais conhecidos como óleos e gorduras, são boas fontes de energia alimentar, uma vez que, 1g de lipídeo fornece 9kcal. Dessa forma, suplementar com essas fontes quando se tem o objetivo de ganho de peso, pode ajudar. Alguns dos suplementos utilizados são: Ômega-3, triglicerídeos de cadeia média, ômega-6. Alguns desses suplementos só são oferecidos em ambientes controlados (hospitais, clínicas).
Hipercalóricos: são suplementos com mais de 1kcal por grama ou mL. Costumam oferecer boas calorias em pouca quantidade de suplemento, que pode ser em pó (whey proteín) ou líquido (nutrição enteral hipercalórica e hiperproteíca.
MUDANÇAS NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR
Algumas mudanças comportamentais podem ajudar quem quer ganhar peso saudável, como organizar a rotina e compromissos diários para evitar pular refeições. E assim como no sobrepeso e obesidade, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) auxilia a mudança de crenças e tabus alimentares. Com isso, a pessoa para a compreender mais sobre as mudanças na dieta e como isso influencia no seu dia a dia e até mesmo na sua saúde mental.
Evite pular refeições: pois isso diminui o fornecimento de nutrientes e calorias durante o dia, favorecendo a perda de peso.
Coma os lanches da manhã e da tarde mesmo sem muita fome: os lanches são fundamentais para equilibrar o consumo calórico durante o dia, pois além de fornecer vitaminas e minerais (lanches saudáveis) fornecem também calorias. Os lanches evitam o jejum prolongado e também o excesso de apetite nas grandes refeições (almoço e jantar).
Aumente as calorias gradativamente: o estômago pode aumentar ou diminuir a sua capacidade, e isso vai depender da quantidade de comida que você consome. Dessa forma, começar uma dieta de alta energia de um dia para o outro, pode fazer com que o seu estômago não aguente e cause alguns desconfortos como enjoo, sensação de empachamento e vômitos.
Assim como na obesidade, a dificuldade em ganhar peso pode trazer consequências relacionadas a distorção da imagem corporal podendo levar a transtornos alimentares. Então busque orientação profissional de clínico geral, endocrinologista, nutricionista.
Este, é um artigo com caráter informativo e não substitui consulta, avaliação, orientação profissional.
Bianca Oliveira
Nutricionista formada pela Universidade Federal do Pará-UFPA
Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário do Pará-CESUPA.
CRN7 13537/P.
Referências:
1. Brasil. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Ministério da Saúde. Brasília- DF, ed. 1, p. 36. 2022.
2. Glorimar R. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. GEN. Rio de janeiro, ed. 1, p. 352. 2021.